Saudades... tempos idos da minha infância! Tudo era felicidade... não conhecia a dor, Corria pelas campinas, movendo distância, Era meu mundo de paz... recanto abstrator.
A brisa olente que tocava em meu peito, Fazia das silvas, ternas canções de amor, Jubilosos momentos... tudo era perfeito! Eu, criança, bailando como um sonhador.
Vida minha, meta da suntuosidade pueril! Ignoto das lágrimas, eu não sentia solidão, Liberdade! Vertente de uma vida pastoril.
Eram deleites para meu diminuto coração, Toda minha meninice em existência serril, Cuja lembrança, dá-me saudade e emoção.
CONSOLO NA PRAIA
Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o 'humour'?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
Amigos de Infância
Amigos vêm e vão em nossa vida
Assim como garçom num bar
Porém amigos de infância serão eternos...
Independente de que caminhos sigamos
É a lei da vida
Crescer... Viver... Morrer...
Mas carrego comigo a certeza
Que foram os tempos mais felizes
De minha vida
Na inocência cega;
No riso sem malícia;
Cantiga de roda;
Realidade tão nua, brilhante!
Sem medo de sermos felizes.
E fomos!
A infância é da criança
Ter infância é ser criança,
E embora haja quem não pense,
Criança também é gente.
Criança tem sentimento,
Que cresce com o tempo.
Criança tem alegria,
Envolta em fantasia.
Criança quer brincadeira,
E também gosta de fazer asneira.
Criança não tem vaidade,
Mas é próprio da idade.
Criança também sente tristeza,
Mesmo criada com riqueza.
Criança também tem dor,
E sofre por falta de amor.
E que bom que seria,
Se pudesse-mos dizer todos com alegria,
Que já fomos criança em dia.
RIO DE MINHA INFÂNCIA
“A minha infância é lembranças de um pátio sevilhano...”
Retrato, António Machado
A memória de minha infância
É um rio caudaloso
Que estranhamente corria para o passado.
Um rio que definhava a cada dia.
Malgrado o volume de chuvas que recebia,
Nunca aumentava.
Era caudaloso, cintilante,
Quando nasci.
Ganhou vigor por algum tempo.
Depois distribuiu afluentes pelo mundo
E ficou mais lânguido, mais vulnerável.
Recebeu algumas oclusões,
Perdeu o vigor, recebeu reparos, E nunca mais correu como antes pela planície inculta.
Em algum tempo não mais fertilizava plantações
E o trabalho de homens e insetos nas searas
Era um dispêndio inútil de forças.
Mas os olhos de todos sobre ele não era de raiva:
Era de comiseração!
O velho rio agonizava em seu leito feito ancião,
E como ele os seus afluentes perdiam vitalidade.
Mas estavam todos tranqüilos: não há surpresas
Na vida.
Os olhos que se debruçavam sobre o velho rio
Viam nele a história do mundo que se resume
Ao tempo de cada um.
O que existir além disso não passa de sonhos e desejos.
Tenho saudades da minha infância
Saudades de tempos distantes,
pessoas especiais,
lugares inesquecíveis,
cheiros e prazeres,
recordações de um tempo mágico,
sonhos de criança,
dias de esperança,
Tenho saudades da minha infância,
infância querida,
infância vivida no interior,
simplicidade, liberdade...
banho de igarapé,
brincadeira no quintal,
gosto de açaí,
o cheiro gostoso dos bolinhos da vovô,
a farda azul da minha escola adorada,
passeios na praça em tardes ensolaradas, Cenas incontáveis de dias felizes,
brincar, cantar, nadar
ouvir estórias do boto e do curupira
Ah! eu lembro da minha babá
Como era bom vê-la cantar,
também lembro mãe dos teus carinhos
eles embalavam o meu sono
e o meu despertar
na galeria da minha memória
surgem intermináveis recordações
todas elas repletas de amor, saudades e emoção.
Minha querida infância
minha infância pequena eu brincava de amarelinha minha infância meus amigos era bom brincar mas me estiquei virei uma pessoa boa voando no universo fiz um verso brincando fiz uma poesia.
INFÂNCIA
Fátima Venutti
Cadê o pique-latinha?
Pião girando, bailando
Na palma da mão,
Feito o relógio que o tempo esqueceu.
Cadê o roda-roda?
Lencinho na mão,
Pera-uva-maçã
Aquele gosto de beijo que nunca provei
E o cheiro da ingenuidade a recitar.
Cadê a pipa? Papagaio a desfilar?
Veias a brindarem com o vento
A sinfonia de um único paladar:
Desafiar os fios,
Nuvens imaginárias a banharem
Cores, varetas... no parir da coragem.
Cadê o “bafo”? Bolinha de gude?
Cinco dedos a delimitarem espaço
Na terra batida do pátio da escola.
Cadê meus pés descalços?
Chinelos esquecidos no vizinho;
Rostos que nunca apaguei da memória
Cadê a “queimada” ao entardecer?
Cacos de tijolo a traçarem
Limites no asfalto, a comungarem parceria,
A registrarem infinitas amizades.
Cadê a nossa infância?
O relógio da vida se fez presente,
Mas deixei escuso em minha alma
O menino que ainda insiste em
Brincar de esconde-esconde.
Saudosa Infância
No final de tarde chega a saudade do pôr – do – sol da minha mocidade, da vida da cidade do interior onde cada amanhecer tem outro valor, Vem a lembrança, das longas conversas nas varandas, dos banhos de cachoeiras, da festas da padroeira, da beleza do campo, dos cantos dos pássaros, do brilho da estrada de chão, do fogão a lenha, das novenas na vizinhança, da serenata na calçada para a amada das cavalgadas. Tudo isso assenta o meu desejo, de voltar ao leito do rio da minha infância e mergulhar nas águas mansas do meu ser criança.